A convite do Teatro Nacional de São Carlos, Clara Andermatt cria “E Dançaram para Sempre”, uma obra que parte do enredo e da música de Claude Debussy e convoca um elenco diversificado: cinco elementos profissionais, com caraterísticas muito diferentes entre si, e dois jovens alunos da Escola de Dança do Conservatório de Lisboa. Uma forma de retratar a realidade, assente na diferença de corpos e na expressão da individualidade de cada um.
A artista plástica Joana Vasconcelos participa na criação da cenografia e figurinos, trazendo ao espetáculo o imaginário estético das suas conhecidas "Valquírias". Para esta peça, cria a Valquíria Joujoux (2007). A composição musical original é interpretada ao vivo pelo pianista António Rosado.
São quatro vetores – música, história, cenário e intérpretes – que se combinam, entre o imaginário infantil e a ambígua intimidade adulta, para ensaiar o mundo numa caixa de brinquedos, ou refletir sobre a caixa de brinquedos que é o mundo que habitamos.
"Esta história passa-se numa caixa de brinquedos. As caixas de brinquedos são, efetivamente, espécies de cidades nas quais os brinquedos vivem como pessoas. Ou talvez as cidades não sejam mais do que caixas de brinquedos nas quais as pessoas vivem como brinquedos. As bonecas dançam: um Soldado vê uma delas e apaixona-se; mas a Boneca já tinha entregue o seu coração a um Polichinelo preguiçoso, frívolo e conflituoso. Então, os soldados e os polichinelos travam uma grande batalha, no curso da qual o pobre pequeno Soldado de madeira é deploravelmente ferido. Abandonada pelo Polichinelo vilão, a Boneca recolhe o Soldado, trata dele e ama-o, casam-se, são felizes e têm muitos filhos. O frívolo Polichinelo torna-se guarda-florestal. E a vida continua na caixa de brinquedos.”
Clara Andermatt (2007)